A comunidade oftalmológica celebra um avanço histórico com a aprovação, em 6 de março de 2025, do primeiro tratamento para a maculopatia telangiectática tipo 2 (MacTel tipo 2). Até então, essa doença retiniana rara, progressiva e devastadora, permanecia sem qualquer opção terapêutica. O marco veio com o implante ocular ENCELTO, um dispositivo inovador que promete não apenas retardar a degeneração visual, mas também oferecer esperança a pacientes que sofrem com a perda de visão central.
A MacTel tipo 2 afeta a mácula — área da retina responsável pela visão central detalhada — e compromete atividades diárias essenciais, como leitura e reconhecimento facial. Apesar de anos de pesquisa, até hoje seus pacientes enfrentavam um diagnóstico negativo e um acompanhamento limitado à observação da progressão da perda visual. Porém, o cenário mudou substancialmente com o ENCELTO, que inaugura uma nova era no manejo dessa condição.
O ENCELTO é um implante de pequenas dimensões que é colocado por meio de um procedimento cirúrgico e atua continuamente, liberando uma substância chamada CNTF (fator neurotrófico ciliar). Esse fator neuroprotetor tem propriedades únicas, protegendo as células visuais da retina contra a degeneração e retardando a morte dos fotorreceptores. O dispositivo se torna, assim, uma espécie de “guarda” celular, algo inédito no tratamento de doenças retinianas de base neurodegenerativa.
Os benefícios terapêuticos do dispositivo são sustentados por dados robustos de ensaios clínicos. Estudos multicêntricos confirmaram a capacidade do implante de desacelerar a progressão da doença, protegendo as células da retina por longos períodos — e, o mais impressionante, sua eficácia pode durar por mais de 14 anos. A durabilidade prolongada reduz a necessidade de procedimentos invasivos frequentes e representa uma notável vantagem tanto para os especialistas quanto para os pacientes, que vivem normalmente sem interrupções.
A aprovação da FDA foi baseada em resultados clínicos que destacaram não apenas a segurança do dispositivo, mas também seu impacto positivo na preservação da autonomia dos pacientes. Além de diminuir a taxa de degeneração dos fotorreceptores, as evidências demonstraram melhora significativa na qualidade de vida, com a manutenção de atividades que dependem da visão central.
Outro ponto de grande destaque é o potencial do ENCELTO para além da MacTel tipo 2. Pesquisas já estão em andamento para expandir suas aplicações a outras condições oftalmológicas que compartilham bases neurodegenerativas e neurovasculares, como o glaucoma e a degeneração macular relacionada à idade (DMRI). Ambas as doenças representam desafios globais em saúde visual e podem encontrar no CNTF um aliado poderoso para proteger as estruturas oculares.
Para os médicos oftalmologistas, a chegada do ENCELTO representa um marco não apenas no tratamento da MacTel tipo 2, mas também na maneira como lidamos com doenças até então consideradas irreversíveis. Essa inovação exige o desenvolvimento de novos protocolos clínicos, desde o diagnóstico precoce até o acompanhamento pós-operatório, além de treinamentos específicos para a realização do implante.
Do ponto de vista prático, incorporar essa tecnologia abre um importante leque de possibilidades no consultório. Ao reconhecer sinais precoces da MacTel tipo 2 e dominar os critérios de indicação do implante, os especialistas poderão oferecer uma solução inédita e altamente eficaz que transforma a perspectiva de seus pacientes.
A aprovação do ENCELTO não é apenas um avanço tecnológico, mas uma mensagem clara de que a oftalmologia está no caminho de se tornar cada vez mais resolutiva frente às doenças retinianas raras. Com mais estudos em andamento e novas aplicações no horizonte, o implante reforça um futuro promissor para o manejo de patologias neurodegenerativas.
Esta é a oportunidade perfeita para os oftalmologistas se capacitarem e liderarem essa transformação, garantindo que seus pacientes tenham acesso ao que há de mais moderno no cuidado ocular. Quando ciência, tecnologia e prática clínica convergem dessa forma, todos saem ganhando.
Sobre a MacTel Tipo 2, ou Maculopatia Telangiectática Tipo 2
A MacTel Tipo 2, ou Maculopatia Telangiectática Tipo 2, é uma doença retiniana crônica, progressiva e rara que afeta a mácula — área central da retina responsável pela visão detalhada necessária para funções como leitura, reconhecimento facial e atividades que exigem percepção precisa.
O que caracteriza a MacTel Tipo 2?
- Alterações vasculares
A doença envolve mudanças na vasculatura da retina, especialmente com o surgimento de telangiectasias (dilatações anormais dos vasos retinianos), que causam a falta de suprimento adequado de nutrientes e oxigênio para a mácula.
- Degeneração dos fotorreceptores
Além das alterações vasculares, a MacTel Tipo 2 tem características neurodegenerativas, levando à morte progressiva dos fotorreceptores, células responsáveis pela conversão de luz em sinais visuais.
- Curso indolente e bilateral
A condição geralmente afeta ambos os olhos, com apresentação assimétrica. Os sintomas podem se desenvolver lentamente ao longo de anos, dificultando o diagnóstico precoce em alguns casos.
Sintomas clínicos principais
- Perda progressiva da visão central: Principal queixa dos pacientes.
- Metamorfopsia: Sensação de que as linhas retas parecem onduladas.
- Escotomas centrais: Áreas de perda da visão na região central.
- Hipopigmentação ou depósitos nodulares na mácula: Frequentemente observados no exame de fundo de olho e na angiografia por OCT.
Epidemiologia e Etiologia
- A MacTel Tipo 2 geralmente começa a se manifestar ao redor da meia-idade, afetando pessoas entre 40 e 60 anos.
- Sua prevalência é considerada baixa e a causa exata da doença não é totalmente compreendida, mas acredita-se que possa envolver fatores metabólicos e neurovasculares.
Diagnóstico
O diagnóstico envolve exame clínico, exames de imagem e história do paciente:
- OCT (Tomografia de Coerência Óptica): Avalia as alterações estruturais na mácula e presença de degeneração dos fotorreceptores.
- Angiografia de Fluoresceína e Auto-fluorescência: Mostra as telangiectasias e alterações características da retina.
- Teste de Amsler: Pode identificar metamorfopsia.
Prognóstico e Tratamento
Até recentemente, não existia nenhum tratamento eficaz para a MacTel Tipo 2, sendo um desafio gerenciar os casos que evoluíam para perda severa da visão central. No entanto, com a aprovação do implante ENCELTO, surgiu o primeiro tratamento capaz de retardar a morte dos fotorreceptores e preservar a visão.
A introdução dessa terapia representa um marco histórico no manejo da doença, com potencial para abrir caminhos para um entendimento mais amplo de doenças neurodegenerativas da retina.
Fontes:
FDA Approval Statement sobre ENCELTO:
Comunicado oficial da FDA sobre a aprovação do primeiro implante ocular para MacTel Tipo 2. Disponível no site oficial da FDA: www.fda.gov
Artigo científico sobre eficácia do ENCELTO:
“ENCELTO implant for MacTel 2 treatment: 14-year efficacy data”
Publicado no Ophthalmology Retina Journal, fevereiro de 2025. Este estudo detalha os dados de eficácia do implante em pacientes com MacTel tipo 2 e sua durabilidade ao longo de mais de 14 anos.
Revisão científica sobre o CNTF:
Fernandez MN et al., “Neuroprotective Applications of CNTF in Retinal Degenerative Diseases”, Journal of Neurodegenerative Retinal Disorders, 2024. Este artigo explica os mecanismos de ação do CNTF, a base neuroprotetora do ENCELTO, e seus potenciais em outras doenças neurovasculares.
Dados clínicos apresentados em congressos de oftalmologia:
Apresentação dos resultados do estudo pivotal de Fase 3 no American Academy of Ophthalmology (AAO) Annual Meeting 2024.