Oftalmologia sem Mistérios

Estrabismo adquirido: uma análise clínica sobre desafios e condutas guiadas pela prática e evidências científicas

O estrabismo, quando adquirido, apresenta-se como uma questão multifacetada para o oftalmologista contemporâneo, exigindo raciocínio clínico apurado e uma abordagem integrativa que combine ciência, técnica e experiência prática. Embora o desalinhamento ocular seja comumente associado à infância, os casos adquiridos em adultos e idosos têm demandado atenção crescente dentro dos consultórios, sobretudo devido às suas etiologias complexas, impacto funcional significativo e implicações na qualidade de vida dos pacientes.

Em um recente episódio do podcast promovido pelos cursos Oftalmologia Sem Mistérios: “Meu paciente ficou estrábico! E agora?”, o moderador estrabólogo Dr. André Jorge conduziu um debate aprofundado sobre os principais desafios relacionados ao manejo do estrabismo adquirido. O encontro reuniu os especialistas: Dra. Maria Lúcia H. Simão, Dra. Christine Morello, Dra. Fernanda Krieger e Dr. Celso Lopes, o painel abordou tópicos de alta relevância clínica, evidenciando desde novas síndromes oculares até estratégias avançadas de diagnóstico e tratamento.

Entre os aspectos discutidos, destaca-se o fenômeno da esotropia relacionada ao uso prolongado de dispositivos móveis, ou “esotropia do smartphone”. Esse quadro emergente tem sido correlacionado a esforços de convergência persistentes e à constante focalização em distâncias curtas, resultando em sintomas como visão dupla ou desconforto visual. Estudos ainda estão em andamento para elucidar os mecanismos exatos, mas há consenso sobre a importância de orientar os pacientes a reduzirem o uso intenso desses dispositivos.  

Outro ponto de grande impacto na prática oftalmológica é o estrabismo no idoso, também denominado sagging eye syndrome. Essa condição, frequentemente subdiagnosticada, resulta de alterações anatômicas relacionadas à idade, como enfraquecimento dos tecidos orbitários e laxidão dos músculos extraoculares. O manejo clínico eficaz exige um diagnóstico diferencial rigoroso que evite confusões com paralisias oculomotoras ou desalinhamentos secundários a doenças neurológicas.

A relação entre estrabismo e orbitopatia de Graves foi outro eixo relevante do debate. Essa condição autoimune pode causar desalinhamento ocular significativo, acompanhado de diplopia e restrição da motilidade ocular. Durante a discussão, os especialistas enfatizaram a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, envolvendo endocrinologistas e oftalmologistas, além de explorar avanços no tratamento com imunossupressores, cirurgia de descompressão orbital e alinhamento ocular.

Casos de estrabismos paréticos e paralíticos adquiridos também foram amplamente discutidos, com enfoque nas etiologias mais comuns, como traumas, infecções e síndromes neurológicas. O diagnóstico nesses casos se baseia em avaliações detalhadas da motilidade ocular associadas a exames de imagem, considerando sempre condutas individualizadas que podem incluir terapias conservadoras (como uso de prismas e toxina botulínica) ou intervenções cirúrgicas.

Esses exemplos trazem à tona a complexidade do estrabismo adquirido na prática clínica e reforçam a importância da atualização constante e da troca de experiências entre profissionais da área. Além disso, revelam como novos paradigmas, como os efeitos secundários da tecnologia e do envelhecimento, estão transformando a dinâmica do consultório.

Para aprofundar esses e outros aspectos, acesse o episódio completo do podcast no canal do Dr. André Jorge no YouTube. A interação entre oftalmologistas experientes, aliada a abordagens clínicas baseadas em evidências, oferece uma oportunidade ímpar de aprendizado e reflexão para quem busca excelência no manejo dessas condições.

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