A miopia, mais do que um simples erro refrativo, tem se apresentado como uma “verdadeira epidemia global”, com projeções alarmantes de prevalência para as próximas décadas. Para nós, profissionais da visão, a questão transcende a mera prescrição de lentes corretivas; ela exige uma compreensão aprofundada e uma abordagem proativa no que convencionamos chamar de “controle da miopia”. Mas será que estamos focando no alvo certo?
O debate central é claro, e cada vez mais urgente: não se trata apenas de estabilizar o grau esférico, mas sim de gerenciar o crescimento do diâmetro axial do olho. As temidas complicações da alta miopia – como o descolamento de retina (com um risco 22 vezes maior), a maculopatia miópica, o glaucoma e a catarata precoce – não são meros caprichos do destino; elas são a manifestação de um alongamento axial descontrolado. É por isso que, mais do que nunca, prevenir significa ir à raiz do problema, evitando desfechos que comprometem irreversivelmente a visão e impactam a qualidade de vida e a produtividade de nossos pacientes.
Entender por que a miopia progride é fundamental. A genética, embora seja um fator potente (especialmente a miopia parental), é inegavelmente modulada por fatores ambientais. A exposição insuficiente à luz solar natural, por exemplo, afeta a produção de dopamina, um neuromodulador crucial no controle do crescimento ocular. Além disso, a teoria do “defocus periférico” – onde a luz que foca à frente da retina periférica atua como um sinal para inibir o alongamento do olho – tem guiado o desenvolvimento de diversas intervenções modernas.
As opções terapêuticas para desacelerar esse alongamento axial são diversas e, muitas vezes, complementares:
- Controle Ambiental: O mais acessível e universal, porém o mais desafiador na prática. Incentivar o tempo ao ar livre (cerca de 2 horas diárias) e reduzir o tempo de tela são pilares inegociáveis, com evidências crescentes de seu impacto, não apenas na miopia, mas no desenvolvimento neuropsicomotor geral.
- Farmacológico: A atropina diluída, nas concentrações de 0,025% ou 0,05%, tem mostrado eficácia consistente (redução de 50-60%), atuando em múltiplos mecanismos. Contudo, a adesão a longo prazo e a gestão dos efeitos colaterais, como fotofobia e perda de acomodação, são pontos cruciais a serem considerados.
- Óptico: Lentes de óculos e de contato que induzem um defocus miópico na periferia da retina, através de tecnologias inovadoras (como as de Hoya MiYOSMART, Essilor Stellest e CooperVision MiSight), representam um avanço significativo, com resultados promissores.
- Ortoceratologia (Ortho-K): Através do uso noturno de lentes de contato rígidas que remodelam a córnea, a Ortho-K oferece liberdade visual durante o dia e um controle eficaz da progressão axial, baseando-se no mesmo princípio do defocus periférico.
Para que o tratamento seja eficaz, o monitoramento deve ir muito além da refração. A biometria axial anual é indispensável, complementada por exames refracionais regulares (a cada 6 meses). Ferramentas como as curvas de crescimento axial de Tideman são valiosas para visualizar a trajetória do paciente e ajustar a estratégia de forma individualizada.
A decisão de iniciar ou suspender um tratamento, e qual modalidade escolher, é individualizada e exige um profundo conhecimento das evidências. As dúvidas persistirão – qual a melhor dose de atropina? Qual lente para qual paciente? Quando interromper o tratamento sem risco de efeito rebote? – mas a base do conhecimento está em constante evolução.
Convidamos você, colega médico oftalmologista, a aprofundar-se neste tema complexo e fascinante. Para desmistificar esses conceitos e explorar as nuances da miopia e seu controle, “Oftalmologia Sem Mistérios” preparou um conteúdo exclusivo, com a participação de renomados especialistas que compartilham suas experiências e as últimas evidências.
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